O remake de Vale Tudo termina nesta sexta-feira (17) com uma certeza: foi uma novela que marcou o público — isso não quer dizer que seja positivamente. É uma trama que chega ao fim com dois extremos. Se de um lado elevou a audiência do horário e deu muito lucro à Globo, do outro expôs o empobrecimento da dramaturgia da emissora.
A decisão de entregar a adaptação de um dos clássicos da dramaturgia à Manuela Dias foi um dos maiores erros. Nada contra à autora, mas sim às suas decisões. A Vale Tudo de 2025 em nada representou o folhetim de Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, que marcou época em sua exibição em 1988.
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O questionamento que norteou a primeira versão, a pergunta se “vale a pena ser honesto no Brasil?”, simplesmente não existiu no remake. Manuela Dias deu indícios de que isso aconteceria ainda antes da estreia, no ano passado, mas na ocasião não pareceu que a adaptação passaria tão longe da história original.
Raquel escanteada e personagens esquecidos
O pior, no entanto, estava por vir no desenvolvimento do remake de Vale Tudo. É inegável que Manuela Dias reduziu a importância de Raquel (Taís Araújo) na trama e diminuiu a trajetória da protagonista, que originalmente era a grande rival de Odete Roitman — interpretada por Debora Bloch na versão atual –, protagonizando embates com a vilã, além de permanecer rica durante grande parte da novela.
A autora apagou até mesmo personagens que ela mesma resolveu deixar na trama, como é o caso de Cecília (Maeve Jinkings). Ao contrário da trama de 1988, em que a personagem morre, dessa vez a novelista resolveu mantê-la na história. Ela, porém, esqueceu de desenvolver a trama de Cecília e Laís (Lorena Lima), que fizeram figuração de luxo.
Isso sem contar em outros personagens que passaram batidos, como Bartolomeu (Luís Melo) e Eugênio (Luís Salém), além dos completamente esquecidos, como Fernanda (Ramille), que sequer teve algo desenvolvido.
Tramas mal desenvolvidas
Outro problema foram os plots que Manuela Dias simplesmente resolveu num passe de mágica ou simplesmente não desenvolveu. Tramas foram jogadas de qualquer jeito na história, como o burnout de Renato (João Vicente de Castro), a crise financeira da Tomorrow ou a assexualidade de Poliana (Matheus Nachtergaele).
A doença de Afonso (Humberto Carrão), que foi mais um acontecimento inédito do remake de Vale Tudo, também nada acrescentou à história. A única função foi dar uma utilidade a Leonardo (Guilherme Magon), que doou a medula ao irmão. O plot poderia até render algo interessante, mas sequer teve algum desenvolvimento digno.
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Solange (Alice Wegmann) também ganhou uma doença para chamar de sua na adaptação da novelista, mas isso sequer teve alguma utilidade. A diabetes de Solange não teve nenhuma relevância na história e não mudou em nada a trajetória da personagem. Serviu apenas para ela fazer merchan — malfeito — de um medidor de glicose.
Desfecho capenga
A reta final foi mais uma prova do mal desenvolvimento. Após a morte de Odete Roitman, nada de relevante aconteceu, com uma enrolação sem fim de uma investigação malfeita e sem nexo. Desde a penúltima semana, a trama passou a agonizar à espera do último capítulo.
No fim das contas, Vale Tudo é uma novela que só fez bem aos cofres da Globo, mas muito por conta do sucesso da trama de 1988, já que o remake termina com média geral de apenas 23 pontos — a terceira pior da história do horário das nove, superando apenas Um Lugar ao Sol (2021) e Mania de Você (2024).
O balanço final é que pareceu que a autora quis fazer uma novela sua com o título de Vale Tudo. Passou longe de ser uma homenagem a Gilberto Braga.
