No último dia 22 de julho, o nome de Patrícia Poeta esteve envolvido em mais uma lista de cancelamentos. Dessa vez, os haters direcionaram críticas à apresentadora substituta do “Encontro” porque ela usava um quimono japonês ao tentar “homenagear” o país-sede da edição 2020 das Olimpíadas, ocorrida em 2021 devido o adiamento por conta da explosão da pandemia. Foram muitos comentários, os quais estiveram sendo desprezados por ambas as partes: nem Patrícia, tampouco a Globo demonstraram interesse em responder o burburinho, dando a entender que estavam em conformidade com a situação e que não estavam nem um pouco arrependidos pelo fato.
A atitude repete um fato ocorrido com a titular do próprio matinal. Em 2016, Fátima Bernardes apresentou o “Encontro” usando diversas perucas e, até hoje, é lembrada pelo erro. Mas, assim como a situação atual, não houve reparações sobre o caso e isto parece ser algo rotineiro. Com isto, vamos relembrar algumas situações em que a Globo pecou ao tentar retratar culturas ou povos em suas novelas e que, consequentemente, esteve com sua reputação abalada porque entendeu que estava fazendo algo correto, mas na verdade estava se apropriando de traços identitários:
O Bem-Amado (1973)
Aclamada até os dias atuais, a novela é considerada um dos clássicos do canal. Recentemente, ganhou destaque ao ser relançada para o Globoplay. A novela gira em torno da história de Odorico Paraguaçu e se passa em uma cidade do litoral baiano. Odorico é o prefeito de uma cidade fictícia chamada Sucupira e por lá é aclamado pela população, que é enganada pelo prefeito corrupto. Porém, segundo estudiosos das faculdades de Comunicação, a novela nada mais é do que mais um exemplo da esteriotipação do nordestino.
No artigo “O nordeste nas novelas da Rede Globo: 1965-1975”, as estudiosas Andréa Cardoso Nunes e Jacqueline Lima Dourado dão ênfase ao fator de que os personagens da novela são caricatos. As estudiosas vão mais além e dizem: “Destaque deve ser dado a alguns tipos recorrentes em representações do povo nordestino: Odorico (o político corrupto, inescrupuloso, de hábitos bastante peculiares), as irmãs Cajazeiras (beatas, “fogosas”), Zeca Diabo (ex-cangaceiro, analfabeto, violento, mas ao mesmo tempo ingênuo), Zelão (um inocente pescador que tenta construir para si um par de asas que lhe permita voar)“.
Negócio da China (2009)
Considerada a novela com a pior audiência da história das 18h, as dores de cabeça por conta da trama não se limitaram a saída repentina de Fábio Assunção. O ator, que na época lidava com o vício em drogas e teve que deixar a a novela no meio das gravações, era só mais um problema. A Globo teve que lidar também com o fato de que, a novela com enredo sobre a China, em seu elenco tinha apenas cinco atores descendentes asiáticos, o que causou um certo desconforto para a comunidade chinesa na época. Os demais, eram atores brasileiros, com feições ocidentais e que faziam cenas usando trajes orientais.
Em 2019, internautas discutiram sobre a questão e trouxeram a tona algo ainda mais delicado: as publicidades de “Negócio da China” mostravam os atores puxando os olhos. E você já deve até imaginar que a reação dos internautas não foi nada boa.
Segundo Sol (2018)
A novela foi mais uma tentativa da Globo tentar se sobressair das derrotas para a Record em algumas praças consideradas problemáticas. A Bahia é a pior audiência da Globo em todos os estados e isso é um fato. Porém, na época do lançamento da novela, a situação era ainda pior. O “Notícias da TV”, de Daniel Castro, fez até uma matéria sobre o assunto, onde o título era “Na terra da novela das nove da Globo, até o Jornal Nacional perde para a Record“. E a ideia da Globo era exatamente chamar a atenção dos baianos, para reverter o quadro crítico. Na busca de soluções, “Segundo Sol” surgiu como uma luz no fim do túnel.
Havia grande expectativa para que a novela de João Emanuel Carneiro, além de reaver o prejuízo da maior emissora do país em uma das principais praças de audiência televisiva, também repetisse a fervorosa repercussão de “Avenida Brasil”, outra “cria” do noveleiro. Porém, além de seus índices terem sido mornos em comparação com as tramas antecessoras, a novela foi acusada de apropriação e racismo.
Até mesmo o MPT (Ministério Público do Trabalho) protocolou ação para que a emissora se justificasse sobre a escolha de seu elenco para uma novela que retratava um estado de forte presença negra, mas que tinha um número pífio de atores negros. Na época, a Globo desconversou e disse que “respeita a diversidade e repudia qualquer tipo de preconceito e discriminação, inclusive o racial”. Mas, na prática isto não se via em “Segundo Sol”, tanto é que não caiu no gosto do baiano, até porque não o retratava.
Novo Mundo (2017)
Aqui no Brasil demorou mas depois colou, só que em Portugal não foi bem visto o fato de que a novela das 18h tinha personagens com sotaques lusitanos. O estranhamento com os sotaques feitos principalmente pelos personagens Leopoldina (Letícia Colin), Thomas (Gabriel Braga Nunes) e Anna (Isabelle Drummound) quase causou uma rejeição à trama logo em seu início aqui no Brasil, com os críticos especializados em novelas chegando a taxar estes sotaques como incômodos. Porém, isto foi deixado de lado após o público se acostumar, o que não aconteceu em Portugal. Se vendo de maneira caricaturada, uma pesquisa realizada no país após a queda de audiência na exibição da novela diagnosticou que os portugueses não gostavam da maneira como eram retratados, de acordo com a jornalista Patrícia Kogut. Assim, estavam fazendo a SIC registrar recordes negativos, o que fez com que a exibição do folhetim fosse alterada de horário para uma faixa menos nobre, tentando amenizar o prejuízo.