
Diante da crise de audiência em suas novelas nos últimos anos, a Globo vem apostando em algumas fórmulas nos bastidores para tentar reverter a situação. A emissora realizou até mesmo uma pesquisa para entender o público e se reuniu com autores para passar orientações.
A alta cúpula do canal teve encontros com autores da dramaturgia, apresentadores e profissionais de diversas áreas para apresentar os dados da pesquisa. No caso dos novelistas, a orientação é desenvolver tramas se baseando nisso.
A decisão, no entanto, causou descontentamento nos bastidores, como adiantou a colunista Carla Bittencourt, do portal Leo Dias, que trouxe a pesquisa em primeira mão e noticiou que roteiristas têm visto isso como um “freio de criatividade”. O RDN também teve acesso ao documento de 170 páginas por meio de uma alta fonte no setor de Inteligência da Globo e traz mais detalhes, além de informações exclusivas.
Globo encomendou pesquisa para entender o público
Chamada de Brasil no Espelho, a pesquisa que a Globo encomendou ao instituto Quaest abordou temas como religiosidade, família, meritocracia, discriminação, sexualidade e ideologia. O objetivo é entender o que o brasileiro pensa e fazer as novelas — e outras produções — seguirem isso.
O estudo mostrou, por exemplo, a queda no número de católicos ao longo das décadas e o grande crescimento de evangélicos, além da alta no número de pessoas que se consideram sem religião — o que não chega a ser uma novidade.
As novelas da Globo não vêm falando sobre fé à toa. A pesquisa indicou que, mesmo entre pessoas sem religião, 91% afirmam acreditar em Deus ou em algum ser superior.
Novelas para a família
Tramas em sequência com mocinhas batalhadoras e dedicadas às suas famílias também não são por acaso. O estudo apontou que a família exerce um papel central nas motivações e decisões dos brasileiros. Por conta disso, vários folhetins têm apostado no apelo familiar.
A faixa das 19h vem sendo um bom exemplo disso, inclusive com a próxima novela, Dona de Mim. O site apurou que essa visão já tem determinado fatores importantes das novelas da Globo há alguns anos. Um dos exemplos citados nos bastidores é Família é Tudo.
O folhetim de Daniel Ortiz inicialmente se chamaria A Vovó Sumiu, mas posteriormente ficou decidido a troca do título. O nome Família é Tudo não foi escolhido por acaso. Apesar do título genérico e sem criatividade, a escolha visou conquistar esse público que valoriza a família.
Na questão da sexualidade, as pessoas ouvidas pela pesquisa afirmaram que a vida sexual privada dos outros não interessa. No entanto, disseram se incomodar com homens gays afeminados e com beijos entre casais homossexuais.
A pesquisa também analisou os gêneros musicais que dominam o país, como o sertanejo e o religioso. Não por acaso a Globo vem apostando forte nisso. A novela das sete que estreia em novembro, Coração Acelerado, abordará justamente o universo do feminejo.
O estudo também revelou que as pessoas que se consideram de esquerda são minoria e que 51% dos brasileiros se declaram conservadores (independente do espectro político).
Reunião com autores
Depois dos resultados apontados pela pesquisa, a Globo reuniu autores para apresentar os dados. Encontros realizados em novembro do ano passado, que contaram com a presença de Amauri Soares (diretor dos Estúdios Globo) e José Luiz Villamarim (diretor de dramaturgia), reuniu quase todos os autores da casa.
Estiveram presentes nomes como Walcyr Carrasco, João Emanuel Carneiro, Daniel Ortiz, Bruno Luperi, Cláudia Souto, Manuela Dias, Alessandra Poggi, Mário Teixeira, Duca Rachid, Ricardo Linhares, Júlio Fischer, Elísio Lopes Jr, Mauro Wilson, entre outros roteiristas.
Autores contratados por obra não estiveram presentes nos encontros. O RDN apurou que a equipe de Aguinaldo Silva, por exemplo, vem trabalhando com total liberdade (até o momento) para desenvolver Três Graças, a próxima novela das nove.
Tentativa de recuperar a audiência
Nos bastidores, a informação é de que a Globo quer criar fórmulas seguras para suas novelas irem bem na audiência e não se queimarem com os anunciantes. No horário das sete, a ideia é replicar a forma como Rosane Svartman escreve suas novelas. Ela é autora de sucessos como Totalmente Demais (2015), Bom Sucesso (2019) e Vai na Fé (2023).
Essa corrente, inclusive, se iniciou com os sucessos de Vai na Fé e Pantanal (2022). Com o sucesso das duas tramas, a emissora carioca viu na fórmula de Rosane Svartman e em remakes a chance de conquistar o público e aumentar a audiência.
Não é por menos que apostou justamente em autores seguros, como Walcyr Carrasco e Rosane Svartman, além do remake de Vale Tudo, em seu aniversário de 60 anos. A intenção é não correr riscos e dar vexame na data comemorativa, como aconteceu em 2015.
Diante dos recentes fracassos no ibope, no entanto, há quem afirme que a continuidade dessa “fórmula” vai depender dos resultados que as novelas alcançarem esse ano. Internamente, Dona de Mim e o remake de Vale Tudo estão sendo tratadas como um “teste de fogo”. Caso fracassem, pode acontecer uma mudança de rota.
Só ver dorama que os autores vão entender…..kkkkk
A globo já deveria ter feito siso há muito tempo. Ela tem que perguntar o que o telespectador quer ver na tv.