Em pleno século XXI, casos como estes ainda são noticiados. Um relato de uma ex-global sobre o que ela teve que viver por conta de uma novela acaba sendo um retrato comum. O racismo não escolhe data, hora e nem momento para acontecer. A frieza com que vítimas são agredidas e abusadas acabam interferindo até mesmo em suas existências.
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Este caso que citaremos a seguir aconteceu com uma atriz conhecida das novelas da líder de audiência, sempre em papéis de destaque. Artista carioca e premiada, em seu currículo há títulos de sucesso na telinha e nas telonas.
Estreou na Record, na década de 70 interpretando a Dalva em Assim na Terra como no Céu. Logo em seguida, seu talento impressionou a Globo e eles resolveram convidá-la para participar de O Home que Deve Morrer.
Mas, foi em 1976 que esta atriz chegou ao auge de sua carreira. A vilã Rosa da primeira versão de Escrava Isaura a projetou nacionalmente. Em declarações públicas, a própria atribuiu à adaptação de Gilberto Braga boa parte da notoriedade conquistada em atuações nas novelas.
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“Escrava Isaura é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos [que interpretava a Isaura]. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte”, disse Léa Garcia.
Atualmente aos 89 anos, foi entrevistada por Pedro Bial e revelou ter sido agredida quando saía do ar. Após as gravações, as pessoas da época confundiam a ficção com a realidade: “Várias vezes [foi atacada]. Apanhei muito”. O pior teria sido quando estes ataques ficaram recorrentes.
“Eu sou uma mulher que gosta de fazer feira e mercado. Então, eu fui à feira quando eu morava no Flamengo [bairro do Rio de Janeiro]. Uma criatura pegou um peixe enorme e bateu nas minhas costas porque eu ‘estava sendo perversa com a Isaura'”, disse.
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Ela também relatou sobre o dia que chegou a chorar por conta de uma agressão de um fã da Escrava Isaura: “Levei um beliscão de lágrimas descerem dos olhos. Eu estava esperando um táxi na praia do Flamengo para ir para casa da minha prima”.
Perplexo, Bial reagiu: “Que loucura”. Hoje em dia, Léa não nega o teor racista nos linchamentos, mas prefere enxergar a situação acreditando que tenha a ver com a cultura da época em que a novela era exibida: “As pessoas naquele momento confundiam o personagem com o ator”.