Após uma estreia cercada de expectativas, Mania de Você se tornou um grande fracasso na faixa das 21h e uma enorme dor de cabeça para a Globo, que vem tentando salvar a audiência da produção.
A direção da emissora já fez interferências e pediu ajustes ao autor João Emanuel Carneiro, mas nenhuma mudança deu resultado até o momento. Nos bastidores, ainda tenta-se encontrar o que está dando errado para ajustar e conquistar o público.
Ex-diretor de Dramaturgia da Globo, Silvio de Abreu ficou responsável pelas novelas do canal durante cerca de cinco anos, entre 2014 e 2019. Recentemente, em entrevista a um vodcast do Estadão, ele apontou os problemas da atual novela das nove.
O principal problema de Mania de Você
Para o experiente novelista, o principal problema de Mania de Você é a falta de acontecimentos que passem credibilidade e façam o público embarcar na história. “Para uma novela dar certo, ela precisa ser crível para o público, seja comédia, drama, policial, o que for”, pontuou.
“Você tem que acreditar no que está vendo. Aí vem a tal da emoção, você acreditou, você chorou, deu risada, você não acreditou, acha que aquilo está errado, não se comunica com você de alguma maneira, você abandona”, afirmou Abreu.
Como exemplo, o ex-chefão da dramaturgia da Globo citou a sequência do assassinato de Molina (Rodrigo Lombardi). Ele pontuou que tudo o que envolveu o crime apresentou graves “furos”. “Eu acho que teve um problema grave no início novela, eu só vi os primeiros capítulos”, disse.
“Tem um assassinato, a pessoa tem que descobrir quem foi que atirou em quem. Mas como é que isso é armado? Você tem uma moça que está dentro de um quarto com o vilão, que está com o revólver na mão. Aí ele pega e dá dois tiros para o ar, ele está segurando o revólver, enquanto o mocinho vem vindo por trás, agarra a mão dele, tira o revólver, os outros chegam, existe uma briga, e o cara morre”, descreveu.
Novela tem grande inconsistência
Abreu exemplificou usando a cena em que Rudá (Nicolas Prattes) decide fugir após ser acusado por Mavi (Chay Suede) de ser o responsável pelo crime. “Aí começam as investigações. Um dos caras fala para o mocinho: ‘Foi você quem atirou. É melhor você ir embora, senão vou dizer que foi você que atirou e você vai preso’. E o mocinho vai embora, não discute nada, não fala nada”, apontou.
“O mocinho foge, a mocinha, que estava sendo assediada e que viu a briga, vai para a delegacia e não fala nada. Ela fica lá quieta e o bandido diz ela tem que fugir porque a impressão digital está no revólver e leva para o delegado. Ninguém lembra que a impressão digital do cara que atirou também estava no revólver. O delegado não fala nada, ninguém fala”, analisou o novelista.
Apesar de ressaltar o talento de João Emanuel Carneiro — de quem chegou a ser supervisor em Da Cor do Pecado (2004) –, Abreu afirmou que a sequência que marcou a grande virada inicial da trama foi mal construída. Por causa disso, a novela não conseguiu convencer e não fisgou a audiência.
“Então essa armação é completamente falsa, o público não acredita naquilo. Houve um equívoco na armação desse ponto, que era o ponto principal da história, porque a partir daí, o mocinho vai embora, a mocinha separa do mocinho. Mas ela não fala nada e é conivente com o bandido. Esse equívoco afastou o público de acreditar naquela história. Daí pra frente, tudo passa a ser uma bobagem”, concluiu.
Enquanto não percebe os grandes erros da trama, a Globo continua tentando salvar o ibope desastroso de Mania de Você.