Demitido recentemente da Globo, o autor Aguinaldo Silva falou com o Uol sobre como acha que as novelas deverão se portar pós-pandemia. Ele teoriza que os folhetins devem retornar ao que foram no passado, fugindo do realismo que hoje impera.
“Acho que as novelas terão que se afastar um pouco da realidade que, nos noticiários, tornou-se ‘novelística’. Agora o próprio jornalismo escreve ‘capítulos’ da vida real, com desdobramentos anunciados”, observa Aguinaldo, que escreveu mais de 10 novelas na Globo, incluindo Fina Estampa e Senhora do Destino.
Ele cita como o noticiário está se aproximando dos folhetins hoje em dia: “Exemplo do jornalismo: o tal vídeo da reunião presidencial foi divulgado. Agora vamos tentar nos antecipar ao que vai acontecer a seguir. Acho que, diante disso, os autores de novelas terão que ser mais criativos que a vida real. Ou seja: as novelas terão que ser menos realistas”.
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Aguinaldo sugere: “Isso significa o quê? Um volta ao passado. Às grandes novelas. Fico aqui pensando em ‘Pecado Capital’, de Janete Clair, que considero a mãe de todas as novelas contemporâneas. Precisamos não copiar, mas ‘reinventar’ a realidade. Torná-la maior que a vida. Acho que, pós-pandemia, esta será a missão dos novelistas. Ou seja: as novelas voltarão a ser uma porta aberta para a imaginação e a fantasia”.
Silva, que também foi autor de Tieta, Pedra Sobre Pedra, A Indomada e Porto dos Milagres, acrescenta: “O cotidiano, com todas as suas agruras, as pessoas já vivem. Vamos dar a elas nas novelas uma chance de viajar e sonhar”. Ele ainda critica o excesso de distanciamento que já se prevê nos folhetins.
“Alguém diz que, quando recomeçarem as gravações, não pode mais ter beijo nas novelas, porque isso seria ‘um descompasso com a vida real em tempos de pandemia’. Então é bom inventar outro nome para o gênero porque, sem beijo, não pode mais ser chamado de ‘novela”’.