João Ximenes Braga, autor de sucessos como Lado a Lado e Babilônia, fez declarações fortes sobre o momento atual da dramaturgia brasileira e os desafios enfrentados pelos escritores de novelas. Em suas críticas, ele abordou a falta de autonomia criativa e as mudanças no mercado, que têm impactado diretamente a profissão.
Em entrevista ao site F.F Info, o autor demonstrou pessimismo ao falar sobre o cenário atual, destacando que a chegada dos streamings e as decisões de executivos das emissoras têm restringido a liberdade dos roteiristas. “O criador não decide mais nada, nem quando está escrevendo uma ideia original sua. Não decide mais nem quem morre, nem quem mata. Todo o poder de decisão é do executivo, que, por sua vez, é mais influenciado pelos pareceristas que pelo criador. Pra quem sempre trabalhou tantos anos com Gilberto Braga, isso é pior que a morte. Eu me afastei totalmente do mercado por isso”, desabafou.
João Ximenes também criticou a postura de alguns executivos, acusando-os de não assumirem a responsabilidade por decisões que prejudicam a audiência. Ele relembrou Babilônia como um exemplo de novela que foi impactada por interferências externas. “Jogam tudo na conta do autor e aí parece que a emissora nunca anda pra frente, cometem os mesmos erros. Em suma, o problema não é em si o Ibope, mas a desonestidade intelectual e a burrice crassa ao lidar com ele”, afirmou.
Outro ponto levantado por João Ximenes foi um possível boicote que teria sofrido durante a gestão de Silvio de Abreu como diretor de dramaturgia na Globo. Segundo ele, nenhuma de suas sinopses foi aprovada nesse período. Além disso, ironizou o remake de Guerra dos Sexos, escrito por Silvio, ao lembrar que Lado a Lado superava a novela em audiência em várias capitais.
Por fim, João Ximenes lamentou o atual estado do mercado, destacando a desvalorização dos autores. Ele relembrou os tempos áureos da Globo, mas reconheceu que hoje o cenário é desanimador, com remunerações mais baixas e maior interferência nas criações. “Eu cheguei no fim da festa, mas ainda havia brigadeiro na mesa de doces. Além da grana, hoje não vejo possibilidade de um autor conseguir ter alguma autonomia para realizar sua visão artística”, concluiu.