Em Tieta, novela que está em reprise no Vale a Pena Ver de Novo, o autor Aguinaldo Silva abordou alguns temas de maneira “escondida”. Um deles foi a Ditadura Militar (1964-1985), a qual o escritor criticou de forma implícita na trama.
A saga de Tieta (Betty Faria) é ambientada na fictícia Santana do Agreste, no interior do Nordeste. No entanto, a história tem início 25 anos antes, quando a protagonista ainda jovem é expulsa da cidade após ser escorraçada pelo próprio pai.
Esse dia ficou marcado na trajetória da família, mas Aguinaldo Silva, que escreveu o folhetim junto com Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, aproveitou a ocasião para deixar uma mensagem.
Autor deixou mensagem subliminar em Tieta
No capítulo em que Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos) expulsa Tieta (Claudia Ohana) de casa, ele arranca aquele dia do calendário. “Faz de conta que esse dia nunca aconteceu”, diz o patriarca. O dia marcado na folhinha é justamente 13 de dezembro de 1968, data em que foi promulgado o AI-5.
O Ato Institucional nº 5 é um dos episódios mais tristes da história do Brasil, que viveu o momento de maior violência nesse período. Por meio desse ato, a Ditadura Militar endureceu a repressão contra opositores do regime. Nem a TV escapou, e as novelas sofreram com a censura.
De acordo com o site Memória Globo, Aguinaldo Silva destacou que em Tieta ele quis fazer uma metáfora a respeito da volta da liberdade de expressão nas novelas depois de anos de censura imposta pela Ditadura Militar.
Prisão na Ditadura Militar
A citação não veio à toa. Silva sofreu no período da ditadura e chegou a ficar preso durante 70 dias, entre os anos de 1969 e 1970. Jornalista naquela época, ele caiu nas mãos dos militares, mas não chegou sofrer tortura.
“Ser preso é a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa. Sua alma é apossada, decidem seus horários. Eu era muito jovem. Passar por isso por causa de um ato político é muito traumático”, disse ele no livro Turno da Noite.
Originalmente, essa parte não existe na história da trama, que é uma adaptação do livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado, lançado em 1977. Quem acrescentou isso foi Aguinaldo Silva, que adaptou a obra para a Globo ao lado de Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn.