Quem hoje vê o sucesso absoluto de O Rei do Gado, que ganha mais uma reprise na Globo, e sempre registrando bons índices de audiência, não imagina a dor de cabeça que a novela causou na emissora carioca na época da sua exibição original.
Escrito por Benedito Ruy Barbosa, o folhetim deu o que falar por discutir temas polêmicos para a época, como a vida dos trabalhadores do Movimento Sem Terra (MST) e a Reforma Agrária, o que teve grande repercussão na mídia e na sociedade em geral. A novela, aliás, estreou apenas dois meses após a morte de 19 pessoas que faziam parte do movimento sem-terra em uma cidade do Pará, fato que tomou conta do noticiário na época e que gerou muita discussão.
Quando o folhetim estava no auge abordando esses temas, o autor chegou a receber um bilhete anônimo em sua casa em tom de ameaça: “Parabéns pelo que você arranjou. Sou fazendeiro e se aparecer alguém aqui como os de sua novela, aumento o muro três metros para ninguém sair mais”.
Revolta de diretor da Globo
A abordagem desses temas chegou a dividir opiniões dentro da própria Globo, e causou revolta no próprio chefão da emissora na época, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Em uma declaração para o livro Biografia da Televisão, Benedito Ruy Barbosa revelou que o manda-chuva do canal chegou a telefonar para ele, irritado, questionando por que o autor não havia lhe comunicado com antecedência que O Rei do Gado abordaria essas questões espinhosas.
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“Um dia, o Boni me ligou muito bravo porque eu coloquei os sem-terra na trama. Ele queria saber o porquê de não aparecer essa informação na sinopse”, relatou o novelista, que precisou se explicar bastante para o chefe e prometer tratar dos temas com cautela para receber sinal verde e continuar explorando esse núcleo na trama.