Certos tipos de problemas são possíveis de serem perceptíveis antes mesmo que eles aconteçam. O caso da novela que citaremos a seguir foi uma união de muitas decepções e a pressão vinda dos chefões da Globo.
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Era uma época em que os investimentos em teledramaturgia ainda eram embrionários, em meados dos anos 70. Afinal, a emissora carioca acabava de começar sua história e recebia forte investimento de capital estrangeiro, para que pudesse dar certo e finalmente superasse as líderes de audiência.
Os primeiros anos da Globo foram difíceis, uma vez que existia a barreira da consolidada e pioneira TV Tupi, além da TV Excelsior que era reconhecida por ser uma concorrente de alto nível para os padrões daquele período.
A Excelsior saiu da frente e restou a Globo derrubar apenas a Tupi, o que era uma missão mais fácil do que concorrer com duas gigantes. Por isto, Cuca Legal (1975) estreou na faixa das sete, adaptando uma peça teatral de sucesso chamada Boeing-Boeing.
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O título da trama fazia referência ao filho que o protagonista sonhava ter. Ele queria ser pai de um garoto com a “cuca-legal”, expressão que faz referência a pessoas corretas, que costumam evitam problemas.
A peça se chamava Boeing-Boeing porque a figura principal da história era um piloto de avião. Tanto nos palcos, quanto na telinha, o ator foi o mesmo: Francisco Cuoco. Ele se dividia entre três esposas, cada uma de um lugar diferente.
Com uma queda de 10 pontos de audiência em relação a antecessora Corrida do Ouro (1974), a novela passou a contar com cobranças por parte dos chefões que comandavam o canal de TV dos Marinho.
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O primeiro resultado da pressão foi o pedido de demissão do próprio autor. Sylvan Paezzo deixou o cargo principal da novela, fazendo com que Marcos Rey fosse convocado às pressas e estreasse na teledramaturgia global.
Depois, o próprio diretor também pediu para sair. Oswaldo Loureiro deixou a direção da novela e foi sucedido por Jardel Mello. Em entrevista para uma revista da época, Loureiro atribuiu ao baixo investimento feito pela Globo à faixa.
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O pesquisador Nilson Xavier documentou um trecho do depoimento do diretor, estampado na edição da Revista Amiga de junho de 1975: “Cuca Legal nasceu, cresceu e se perdeu […] Uma ideia que tinha tudo para ser abordada da melhor forma possível, acabou se diluindo“.
“[…] As condições de que dispúnhamos eram as mais precárias possíveis […] A falta de condições de Cuca acelerou esse processo de degeneração da novela, tornando-a alvo de críticas à sua monotonia e repetição“, criticou Oswaldo Loureiro, que pediu demissão quando a novela estava no capítulo 100.