Podem até negar, mas a única emissora com capacidade e coragem de bater a dramaturgia global é a Record. No entanto, por conta das militâncias religiosas, os bispos acabam por prejudicarem a si próprios ao lidarem com um Brasil diversificado e plural.
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Em alguns momentos pontuais, houveram investidas ousadas por parte da Record em confrontar a Globo e foi este caso que citaremos a seguir. Os críticos, que costumeiramente constatam as atuais problemáticas da dramaturgia da emissora dos bispos, nesta época ficaram sem falar nada de negativo.
Afinal, era incontestável que a alegação feita por eles para justificar o lançamento de Vidas Opostas era completamente válida. Segundo Marcílio Moraes, a Globo vivia uma era de novelas glamourizando a elite e exaltando os benefícios de ser uma “classe superior”.
O autor queria mostrar exatamente o contrário: falar do Brasil como ele é, violento e a partir da ótica de quem faz diariamente tudo funcionar e ser como é. “Como tínhamos uma liberdade maior para propor temas, levei aos diretores [da Record] a ideia de uma novela na favela, num contraponto à velha máxima da Cidade Maravilhosa”, disse Marcílio
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Foi assim que ele conseguiu convencer os executivos da inimiga número 1 da Globo a fazer um confronto que Silvio Santos sempre evitou. Apesar de ousado e criativo, o dono do SBT sempre afirmou que a Globo é imbatível e que qualquer um que tentar derrotá-la fará isto em vão.
Mas, a Record aproveitou seu momento de coragem para topar a ideia de Marcílio. “Jamais faríamos aquilo na Globo”, disse o autor, ao se referir à composição de núcleos da história mostrando um lado da capital fluminense nunca exibida nas novelas globais.
O enfoque da trama foi no Brasil operário, batalhador, com problemáticas sociais de segurança pública. A fórmula deu certo e, por inúmeras vezes, Vidas Opostas ameaçou a liderança global. Os críticos fizeram diversos elogios à novela, desde o texto, roteiros, composição de cena, elenco e todos os outros detalhes.
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Dentre os atores que faziam parte do folhetim, estavam nomes de peso como Marcelo Serrado, Heitor Martinez, Tássia Camargo, Maytê Piragibe, Léo Rosa, Raul Fazola, Luciano Szafir, Silvia Bandeira, Silvio Guindane e dentre muitos outros.
A cereja do bolo foi o último capítulo de Vidas Opostas: 25 pontos de média, 40% de share (participação do público com a atração exibida) e a Globo jogada para a vice-liderança. “Foi além das minhas expectativas”, admitiu Marcílio no relato presente no acervo do jornalista e pesquisador Nilson Xavier.