Por diversas vezes, Cristal precisou ser repensada diante do contexto em que a novela estava inserida. A novela de Silvio Santos é baseado num dramalhão venezuelano de Delia Fiallo, mas inspirada fielmente a um remake mexicano desta mesma obra. O folhetim em questão é bastante conhecido pelos brasileiros: O Privilégio de Amar.
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Quando foi idealizada, Cristal sofreu muitos ajustes. Tanto porque teria que seguir a cartilha determinada pela Televisa sobre as adaptações às suas tramas, quanto também pelo fato de que houveram alguns impasses com relação ao texto.
A novela foi acusada de ter diversas semelhanças com sua antecessora, Os Ricos Também Choram. Com a quantidade de alterações promovidas pela equipe da autora Anamaria Nunes, o dono do Baú teria se impressionado com o alto orçamento previsto para os capítulos.
Cada capítulo de Cristal foi orçado inicialmente em R$ 70 mil e só assim pôde ser autorizada, uma vez que este valor se equipararia com o padrão adotado até então pelos orçamentos das novelas que o SBT vinha fazendo. No entanto, na prática, os orçamentos por capítulo quase chegaram na casa dos R$ 190 mil.
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Foram valores ousados os que Silvio investiu, mesmo contra sua vontade. Mas, não havia outro jeito, uma vez que o SBT assinou um contrato com cláusulas bastante claras com a Televisa. A multa milionária não compensaria, caso o empresário quisesse voltar atrás.
Pelo bem ou pelo mal, a solução foi cortar algumas partes da história original. Foi o caso do desfecho polêmico da vilã Tamara. Em O Privilégio de Amar, a personagem vivida por Cynthia Klitbo ia enlouquecendo a cada capítulo, de modo que chegava a raspar o cabelo após um surto.
Em Cristal, a vilã foi interpretada por Marisol Ribeiro e existia uma grande expectativa em torno da cena em que ela rasparia o cabelo. A atriz chegou a ser questionada pela imprensa sobre o assunto e disse: “Na versão original, isso acontece no final. Sou atriz e estou preparada”.
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No entanto, na medida em que os cortes eram determinados, a novela do SBT via sua audiência não alcançar os resultados esperados. Foi assim que, entre as exclusões de cenas, determinou-se que a vilã não ficasse careca, sob pena de chocar o público e afastar os poucos pontos registrados no Ibope.
As mudanças provocaram uma insatisfação em todas as partes, inclusive rendendo uma nota de repúdio da criadora da obra original, Delia Fiallo. Ela determinou que a Televisa promovesse alguma intervenção no SBT, antes que a situação fosse se resolver na Justiça. Por fim, a trama foi reduzida a meros 123 capítulos e alcançou apenas 50% da meta de audiência estabelecida.